O que acontece depois que os pés tocam o chão é que o mundo fica sem graça, sem cor, amargo demais. Eu que sempre escrevi assim meio sem fórmula, de alma, toda coração, comecei a perder o trato com as palavras. As frases ficaram mais secas, mais agressivas, menos ritmadas e muitos papéis foram jogados fora antes que saísse alguma coisa. Mas o extremo oposto também não me agrada.
Os pés soltos no ar deixam tudo bordado demais, um céu de brigadeiro, um universo de faz-de-conta. Aí as frases montam-se tão livremente, tão ilimitadamente, tão inconseqüentemente que não fazem o mínimo senso.
Achar um meio termo entre levitar e fincar raízes é o mais sensato. E o mais difícil! Tenho tentado muito. Deixar o coração no freezer e retirá-lo nos momentos necessários. Mas ou o esqueço lá dentro e ele acaba empedrando. Ou o esqueço cá fora e ele termina por derreter com o calor dos casos e dos sentimentos. No entanto ainda penso que seja questão de disciplina. E talvez o tempo seja o melhor professor, ensinando a encontrar um equilíbrio. Aí então poderei ser poesia sem precisar fugir da realidade.
(Grazielle Santos Silva)
Os pés soltos no ar deixam tudo bordado demais, um céu de brigadeiro, um universo de faz-de-conta. Aí as frases montam-se tão livremente, tão ilimitadamente, tão inconseqüentemente que não fazem o mínimo senso.
Achar um meio termo entre levitar e fincar raízes é o mais sensato. E o mais difícil! Tenho tentado muito. Deixar o coração no freezer e retirá-lo nos momentos necessários. Mas ou o esqueço lá dentro e ele acaba empedrando. Ou o esqueço cá fora e ele termina por derreter com o calor dos casos e dos sentimentos. No entanto ainda penso que seja questão de disciplina. E talvez o tempo seja o melhor professor, ensinando a encontrar um equilíbrio. Aí então poderei ser poesia sem precisar fugir da realidade.
(Grazielle Santos Silva)
* Poster do filme "Ensina-me a viver" de 1971.
6 comentários :
Muito bom o texto! Senti-me nele.
E falo com sinceridade não sei que rumo tomar. Acredito caminhar um pouco mais sobre as nuvens, pois lá a realidade tem mais cor, foge-se um pouco dos tons de cinza das construções. Mas este tom faz bem, pois, como foi dito no filme Vanilla Sky, "Sem o amargo, o doce não é tão doce...".
É, não podemos viver voando, pois vivemos aqui, sobre as leis da física, mas nunca, nunca nos deixemos cristalizar.
Belo texto...reflete algo que penso atualmente...;)
Pois é, o modo como escrever um texto e a função da literatura são assuntos há muito discutidos sem chegar a nenhuma conclusão muito permanente.
Quanto a mim, acho que estou mais para o lado das nuvens também. Não acho que alguém possa me culpar por querer alcançar em texto o que não alcanço em realidade.
Mas concordo plenamente com você: "Achar um meio termo entre levitar e fincar raízes é o mais sensato".
Só não sei se sou sensata. (desconfio que não)
beijo! :*
Senti total identificação com esse texto, Grazi! Olha o poder da sua escrita como não é grande.
Um beijo, fadinha. Saudade e cuida direitinho desse coração aí. Ou melhor, da sua mente.
Cin
"Spanglish"!
Texto lindo demais!
=D
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