segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Quando os pés tocam o chão

poster do filme ensina-me a viverO que acontece depois que os pés tocam o chão é que o mundo fica sem graça, sem cor, amargo demais. Eu que sempre escrevi assim meio sem fórmula, de alma, toda coração, comecei a perder o trato com as palavras. As frases ficaram mais secas, mais agressivas, menos ritmadas e muitos papéis foram jogados fora antes que saísse alguma coisa. Mas o extremo oposto também não me agrada.

Os pés soltos no ar deixam tudo bordado demais, um céu de brigadeiro, um universo de faz-de-conta. Aí as frases montam-se tão livremente, tão ilimitadamente, tão inconseqüentemente que não fazem o mínimo senso.

Achar um meio termo entre levitar e fincar raízes é o mais sensato. E o mais difícil! Tenho tentado muito. Deixar o coração no freezer e retirá-lo nos momentos necessários. Mas ou o esqueço lá dentro e ele acaba empedrando. Ou o esqueço cá fora e ele termina por derreter com o calor dos casos e dos sentimentos. No entanto ainda penso que seja questão de disciplina. E talvez o tempo seja o melhor professor, ensinando a encontrar um equilíbrio. Aí então poderei ser poesia sem precisar fugir da realidade.


(Grazielle Santos Silva)

* Poster do filme "Ensina-me a viver" de 1971.

6 comentários :

Felipe J. R. Vieira disse...

Muito bom o texto! Senti-me nele.
E falo com sinceridade não sei que rumo tomar. Acredito caminhar um pouco mais sobre as nuvens, pois lá a realidade tem mais cor, foge-se um pouco dos tons de cinza das construções. Mas este tom faz bem, pois, como foi dito no filme Vanilla Sky, "Sem o amargo, o doce não é tão doce...".

É, não podemos viver voando, pois vivemos aqui, sobre as leis da física, mas nunca, nunca nos deixemos cristalizar.

Wesley Silva disse...

Belo texto...reflete algo que penso atualmente...;)

Thami disse...

Pois é, o modo como escrever um texto e a função da literatura são assuntos há muito discutidos sem chegar a nenhuma conclusão muito permanente.
Quanto a mim, acho que estou mais para o lado das nuvens também. Não acho que alguém possa me culpar por querer alcançar em texto o que não alcanço em realidade.

Mas concordo plenamente com você: "Achar um meio termo entre levitar e fincar raízes é o mais sensato".
Só não sei se sou sensata. (desconfio que não)

beijo! :*

Anônimo disse...

Senti total identificação com esse texto, Grazi! Olha o poder da sua escrita como não é grande.
Um beijo, fadinha. Saudade e cuida direitinho desse coração aí. Ou melhor, da sua mente.
Cin

Diogo disse...

"Spanglish"!

Rebecca Agra disse...

Texto lindo demais!

=D

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