Texto de 28 de fevereiro de 2008
Minha Alma tinha virado um abrigo de Angústias. Primeiro surgiu uma só, bem pequenininha. Mas ela foi crescendo, crescendo, até que ficou enorme e começou a se multiplicar. Umas poucas acharam aquilo tudo muito apertado e foram embora. Outras novas, gostando do fuzuê, foram chegando de longe e se instalando por ali mesmo. E Minha Alma foi ficando superpovoada de Angústias de todos os tipos, de todas as idades, de todos os tamanhos, de várias gerações.
E esses moradores, que não paravam de chegar, foram ficando inoportunos. Eles faziam muito barulho, tomavam muito espaço, não respeitavam ninguém. Nem era possível notar que ali também havia outros habitantes. O Amor teve medo e se escondeu. A Alegria, que antes andava por toda parte, passava o dia inteiro fora procurando outro lugar para morar. A Amizade se trancou e não queria ver ninguém. A Paixão sumiu. Ninguém sabia dela. Só a Raiva e a Tristeza que, aproveitando a situação, juntaram-se às angústias e se deleitavam.
Eu não podia ficar ali parada. Então decidi tomar uma atitude drástica: Expulsei-as todas. Fui colocando para fora uma a uma. As pequenas, as grandes, as novas, as velhas. Não fiz distinção. Algumas não queriam ir embora de jeito nenhum. Elas se agarravam no coração de Minha Alma e não se moviam por mais que eu tentasse. Ah! Mas eu não desisti! Tanta força eu fiz, que as três foram jogadas para fora de uma vez só.
A Raiva e a Tristeza não gostaram nada dessa minha decisão. Vez ou outra uma Angústia aparecia para visitá-las mas eu não permitia que ficassem. Já pensou que confusão seria se tudo começasse de novo? Então as duas foram se sentindo sozinhas e foram embora também.
E a vida em Minha Alma voltou a sua rotina. O Amor, que estava escondido, apareceu. A Alegria desistiu se mudar e voltou a se espalhar por todos os lados. A Amizade abriu suas portas e janelas. A Paixão foi re-surgindo aos pouquinhos, meio cabreira e resolveu abrir suas possibilidades. Agora mesmo está aguardando alguém especial para se apaixonar. E eu também voltei a fazer tudo que fazia antes. Eu não me apresentei, não é? Muito prazer, eu sou a Razão.
(Grazielle Santos Silva)
5 comentários :
Se a vida não é uma obra de arte, então, diga-me o que ela é?
Se falamos biologicamente, temos os constructos das células que se fazem presentes a cada segundo em nosso corpo. Se delimitamos a psiquê, encontramos os frenéticos impulsos nervosos e seus incansáveis neurotransmissores recebendo e enviando tudo que penso ou sinto, seja bom ou ruim. Tudo isso, guiado pela mão do inconsciente, esse pedreiro gente fina que utiliza as areias e o cimento sem peneirá-los antes.
Avancemos....
Se a vida não é uma obra de arte, então, diga-me o que ela é?
Se nos lançamos nas vicissitudes diárias, ao final do dia temos diversos quadros pintados alá Monet, Picasso..e por que não?
Imaginemos a cena do espelho e nós logo ao acordar, é um surrealismo.
Imaginemos a rotina sem sentido da nossa ida ao trabalho, é um capítulo de um livro.
Imaginemos o braço estendido sinalizando para o ônibus, é uma foto casual.
Imaginemos a nossa Angústia quando todos riem, é um Clarice Lispector.
Se a vida não é uma obra de arte, então, diga-me o que ela é?
Adorei isso! Nada pior do que vizinhos insuportaveis... essas angustias =/
Entram em nosso coração, não pagam nada, destroem td... e ainda assustam nossos melhores moradores.
A unica solução é manda-las mesmo embora, mas como da trabalho para expulsar...
Amei seu blog, sicero e belo^^
Beijjooss ;)
A vida é sempre assim: uma onda senoidal muito incerta, com seus altos e baixos. E ela é interessante por isso mesmo. =D
Quanto a achar alguém especial... acho que a pessoa se torna especial. Então eu procuro alguém que queira se tornar especial.
Muito bom texto... Muitas vezes sinto o mesmo que você. Mas a razão chega e nos traz paz e tranquilidade pra ver as coisas com um olhar menos desesperado. A vida nos ensina a ter paciência, ela é a mãe da razão... Faz sentido, né? rs
Beijo
Ana
www.mineirasuai.blogspot.com
Puxa, Muito bom, Grazi!
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